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Outro mundo é possível

23/02/2007

Fonte: Hoje em Dia / Seção: Eu Acredito

‘Um outro mundo é possível. Basta construirmos‘, acredita a ambientalista Miriam Duaibili. Na entrevista ao Eu Acredito!, quando a ONU acaba de divulgar o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), a coordenadora-geral do Instituto Ecoar para a Cidadania e uma das principais ativistas ambientais brasileiras da atualidade, fala sobre o aquecimento global, a Amazônia, o papel dos países desenvolvidos no contexto e como devem fazer para ‘pagar a conta‘, além dos desafios que o homem precisa enfrentar para preservar o meio-ambiente e garantir a sua sobrevivência no planeta.

Os últimos acontecimentos mundiais realmente demonstram que o homem está buscando preservar o meio-ambiente
Embora não dê para generalizar, uma vez que há diferenças enormes entre as populações dos diversos países assim como entre as comunidades de um mesmo país, podemos dizer que esta ‘reação‘ avançou muito. Hoje mais e mais pessoas de todos os níveis sociais, das diferentes faixas etárias, das cidades e do campo, estão convencidas que é preciso cuidar do Planeta. E mais do que isto, que os fenômenos naturais estão relacionados às atitudes humanas.

A impressão que passa é que estamos atônitos, mas paralisados. Por que?
br> Porque intuimos que o desafio que temos pela frente é gigantesco, requer um esforço extraordinário de todos pois implica em mudanças de cultura e, em alguns casos, abrir mão de um padrão de consumo (e conforto) exagerado mas ao qual já nos acostumamos. Na verdade, parece que estamos esperando que alguém nos diga o que temos que fazer, o que cada um pode fazer em seu cotidiano para minimizar as conseqüências de séculos de desmandos e desvarios que o nosso modelo civilizatório produziu.

Atualmente qual a grande preocupação do mundo no âmbito ambiental, ou seja, o que afeta a maioria dos países

As preocupações maiores, nesta primeira década do século XXI, referem-se a três questões cruciais para a manutenção da vida com qualidade no Planeta: o aquecimento global, a preservação dos recursos hídricos e da biodiversidade. Estes 03 fenômenos estão intimamente relacionados e precisamos agir no sentido de enfrentar as três questões simultaneamente.

Como esta essa questão no Brasil e no mundo
O Brasil é um país privilegiado que, se souber agir com um pouco pelo menos de perspicácia e visão estratégica, pode se transformar em um dos países mais avançados do mundo na questão ambiental. Temos a maior biodiversidade do Planeta, 12% das reservas de água doce do mundo, a primazia no desenvolvimento de biocombustíveis e uma produção de energia majoritariamente advinda de fontes limpas (hidroelétrica). No entanto, seja por falta de conhecimento, de recursos ou por ganância, temos sistematicamente poluído nossos rios, lençóis freáticos e aquíferos, temos enveredado - na contramão da história - na direção da geração termoelétrica de energia e temos caminhado a passos de tartaruga na proteção de nossa biodiversidade.

O que os governantes precisam fazer a médio e longo prazos para garantir um futuro menos alarmante para as gerações futuras
Os governantes precisam entender que não há mais espaço para se pensar somente em termos de políticas nacionais, como a reunião do Clube de Roma já apontava na década de 70 do século passado. As questões ambientais são planetárias, atingem a todos em todos os rincões da Terra. É preciso que os governantes, especialmente dos países desenvolvidos, criem condições para que esta visão planetária seja passível de ser implementada o mais rapidamente possível. Outro passo imprescindível é precificar a degradação ambiental. Ou seja, quanto custa a destruição de uma espécie vegetal ou animal, quanto custa o aquecimento global, quanto custa a poluição das águas
Se pusermos tudo na ponta do lápis, veremos que é muito, infinitamente mais barato agir de forma ambientalmente correta, mesmo que isto signifique lucros menores ou custos maiores no curto prazo, do que degradar ainda mais o ambiente em que vivemos. O custo da degradação é tão alto que todo o dinheiro do mundo não será capaz de remediar os estragos ocasionados, ou o desequilíbrio provocado.

São realmente os chamados países do Primeiro Mundo responsáveis pela situação atual
Se pensarmos em termos de aquecimento global, sim. Eles são os maiores emissores de Gases de Efeito Estufa, responsáveis pelo aquecimento do Planeta e pelas consequentes mudanças no clima que todos temos acompanhado. Foi o processo de indutrialização acelerada baseada no uso de combustíveis fósseis (carvão e petróleo), aliado ao desmatamento, à agricultura mecanizada, a pecuária e à imensa quantidade de resíduos sólidos depositados como lixo, que nos últimos 150 anos emitiram mais gases do que a atmosfera poderia absorver e que os oceanos, as florestas e o solo podiam sequestrar. Mas não vamos nos esquecer que países como a China, a Índia e o Brasil, em pleno processo de desenvolvimento descuidado, e até mesmo irresponsável, estão rapidamente atingido os níveis dos grandes emissores mundiais.

Como eles devem ‘pagar a conta‘

Eles devem financiar a ‘limpeza‘ dos ambientes poluídos e as estratégias de conservação do que ainda resta de recursos hídricos não contaminados e de biodiversidade no Planeta. Também podem financiar a mudança de tecnologia que um desenvolvimento baseado nos padrões de sustentabilidade requer. O Protocolo de Kyoto, instrumento da Convenção do Clima, estabelece mecanismos por meio dos quais os países poluidores possam compensar suas poluições ajudando outros países, em desenvolvimento, a crescer usando tecnologias mais limpas. Também precisam dispender vultuosos recursos em pesquisa de tecnologias conservacionistas para todos os campos da produção.

E os demais países, como devem se portar para não repetir os mesmos erros

Devem buscar formas alternativas de promover o desenvolvimento, tão necessário para diminuir as desigualdades sociais, a injustiça e a exclusão, de forma que não degradem o meio ambiente e ainda sejam de uso de mão de obra intensiva, ou seja, geradoras de empregos. Isto é perfeitamente possível. Hoje já temos conhecimento e tecnologia suficientes para, por exemplo, construirmos prédios que gerem sua própria energia, que coletem água de chuva, que reusem a água, que mantenham áreas verdes para permeabilizar o solo e combater as enchentes, temos janelas que mantem a temperatura em níveis agradáveis, evitando o uso de ar condicionados e/ou aquecedores. Temos tecnologia para tornar os automóveis muito mais eficientes utilizando apenas 25% do combustível hoje necessário.

A questão ambiental, mundial e no Brasil, é uma questão de falta de vontade política ou cultural
Acho que é falta de vontade política. Os governos do mundo inteiro, precisam deixar de ser reféns dos lobbies da indústria do petróleo, da indústria automobilística, dos madeireiros, dos grandes proprietários de terras, das empresas de agribusiness, da indústria do consumo e ter a coragem de dar um basta a esta verdadeira farra com os recursos naturais. Isto é imoral, um verdadeiro atentado contra os direitos dos humanos desta e das próximas gerações. O que se observa em alguns países europeus, que vem sistematicamente adotando medidas rígidas para preservação do ambiente, é que a população aceita muito bem estas medidas, se adapta rapidamente a elas (como por exemplo a coleta e disposição seletiva de lixo, a minimização do uso de embalagens, as restrições ao uso de transporte individual etc.).Observa-se também que a economia não decresceu, ao contrário, as empresas continuaram tendo bons lucros, às vezes até aumentando-os muito ao adequar seus meios de produção a padrões ambientais mais avançados. Se houver vontade política, fica muito mais fácil implementar um grande processo de Educação Ambiental para toda a população.

Quem ou quais países vêm se recusando a fazer o ‘dever de casa‘, quando o assunto é meio-ambiente

Esta é uma pergunta difícil pois nenhum país se coloca desta forma.
Mesmo os Estados Unidos, que se negaram a assinar o Protocolo de Kyoto retardando em muito sua entrada em vigor, por outro lado, apresenta avanços significativos em seus estados, com restrição ao uso do automóvel, investimentos maciços em energias renováveis etc. A grande preocupação no momento é a China, dado seus índices extraordinários de crescimento desordenado, sem os necessários cuidados ambientais. O que se pode afirmar sem receio de cometer alguma injustiça é a preponderância dos países europeus, nos temas ambientais. São inegáveis os avanços da Alemanha ( que fez um Copa do Mundo ambientalmente correta, com reuso de água, compensação das emissões de dióxido de carbono, energia solar etc), da Suíça ( que diminuiu significativamente sua produção de lixo nos últimos cinco anos), da islândia e seus carros movidos a hidrogênio e assim por diante.

O Brasil um país tão ‘aclamado, cantado e decantado‘, pela sua exuberância NATURAL, qual o maior desafio

O maior desafio é fazer cumprir nossa legislação ambiental, uma das mais avançadas do mundo, combater a corrupção e incrementar os mecanismos de comando e controle. Além de promover um grande programa nacional de Educação ambiental, especialmente para os gestores públicos, para os legisladores das câmaras municipais que insistem em incentivar ocupações de áreas de proteção ambiental e para o poder judiciário, para que os atores que decidem sobre temas que afetam diretamente a qualidade do meio ambiente em nosso país, realmente compreendam do que se trata. Trata-se de garantir a possibilidade de continuarmos a ter mínimas condições de vida com dignidade neste Planeta, para nós, nossos filhos e netos.

Qual a situação da Amazônia hoje

A Amazônia vem apresentando, pelo segundo ano consecutivo, queda nos níveis de desmatamento, o que é bastante animador mas ainda não suficiente. É preciso que estes índices caiam muito mais. Algumas medidas estruturantes tomadas na gestão de Marina Silva frente ao Ministério do Meio Ambiente, começam a mostrar resultados pois são medidas que envolvem mais de 10 ministérios e os governos estaduais e municipais na luta contra o desmatamento e a biopirataria. Esta é uma boa maneira de avançar na questão, integrando as diversas políticas públicas nacionais, regionais e locais.
No entanto é necessário que a população de todo o país se conscientize e faça sua parte, recusando-se a comprar móveis e objetos de madeira não certificada, denunciar madeireiras ilegais, fiscais corruptos, combater as invasões na mata que ocorrem muitas vezes na calada da noite. A Amazônia precisa de muito mais investimentos em recursos humanos e equipamentos para fiscalização. Há áreas protegidas, parques de mais de 200 000 hectares que tem apenas dois ou três guardas florestais equipados com uma moto ou um carro. A Amazônia é considerada o pulmão do mundo não só pela extensão da área florestada, mas pela diversidade de espécies que juntas limpam o ar mais do que qualquer outra região do mundo, fenômeno que os cientistas ainda não decifraram totalmente. Este é mais um bom motivo para nos preocuparmos cada vez mais em preservá-la.

O que tem acontecido de positivo As agendas 21 são exemplos de mobilização e resultados, no Brasil
Muita coisa tem acontecido de positivo e as agendas 21 são um exemplo do que se pode conseguir por meio da mobilização de todos os atores sociais. A construção das Agenda 21 locais foi, nestes últimos dois anos, um processo que mobilizou gestores públicos, empresários e sociedade civil organizada em muitos municípios brasileiros, sob a égide do MMA que disponibilizou recursos humanos e financeiros para tanto. O passo seguinte é implementar as ações de melhoria socioambiental apontadas na agenda.

Qual a grande contribuição do Instituto Ecoar e metas a serem alcançadas

As contribuições do Ecoar tem sido em três áreas correlatas: na questão florestal, onde o Ecoar planta mais de 2 milhões de árvores por ano no Estado de São Paulo; em pequenas propriedades rurais e na recomposição de matas ciliares; também mantemos um sistemático trabalho de coleta de sementes de espécies nativas ameaçadas de extinção e as desenvolvemos em nossos viveiros que tem hoje cerca de 250 espécies de essências nativas.
Assim contribuimos para a conservação da biodiversidade da Mata atlântica.
Atuamos também na questão da implantação de sistemas agroflorestais na agricultura familiar. Na área da Educação Ambiental promovemos cursos, palestras, oficinas e seminários tendo como fio condutor a questão da Educação para a construção de Sociedades Sustentáveis. Disponibilizamos este conhecimento, o ‘como‘ fazer, para empresas, gestores públicos, jornalistas e comunidades. Também atuamos em projetos de intervenção socioamebintal, como a elaboração de Agendas 21 Locais, a realização de Diagnósticos Socioambientais, a capacitação para a participação na política das bacias hidrográficas e assim por diante.


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