Esverdeamento radical em alta nas empresas
08/04/200908/04/2009 - 12h04
Por Cristina Tavelin, para a revista Idéia Socioambiental
A preocupação com questões socioambientais e a ameaça das mudanças climáticas têm tirado o sono principalmente das empresas com altas emissões de carbono. Um dos resultados dessa crescente pressão, que advém de consumidores mais críticos e exigentes, é o movimento denominado "radical greening", ou esverdeamento radical.
No recente Relatório de riscos para os negócios 2009, da Ernst & Young, foram listados os 10 fatores mais desafiadores para as companhias - preocupações que serão comuns nos próximos anos. Comparado à versão do ano anterior, o esverdeamento radical subiu da nona para a quarta posição no ranking de preocupações para os negócios. Os analistas avaliaram que a pressão externa será "crítica" para os setores automobilístico, de bens de consumo e de seguros, e "alta" para os setores imobiliário, de petróleo e gás e de utilities.
Na opinião de Joel Bastos, diretor da Ernst & Young, todo o risco envolve uma oportunidade de tamanho maior ou igual. "Quando um setor é afetado por um risco qualquer, se identificá-lo de maneira adequada e agir estrategicamente, poderá enxergar melhor a oportunidade relativa a esse desafio", avalia.
Diversas razões foram citadas como causa do aumento do risco do radical greening. Uma delas é a oscilação excepcional nos preços do petróleo, que aceleraram mudanças estruturais no longo prazo e criaram pressão política em setores que lançam mais gás carbônico na atmosfera.
No entanto, segundo o estudo, ainda existem vozes dissonantes sobre a concepção de risco. Alguns especialistas mostram-se céticos em relação ao esverdeamento radical, alegando que certas perdas têm sido direcionadas por fatores não relacionados às mudanças climáticas.
Decisão dos consumidores
As preocupações climáticas e ambientais, segundo Bastos, representam um desafio concreto para a reputação e a marca das empresas. A negligência na hora de responder às expectativas da sociedade pode trazer grandes riscos às corporações, principalmente em setores mais "sujos", com altas emissões de carbono. De acordo com o executivo da Ernst &Young, os consumidores mais críticos podem fazer a diferença a favor ou contra empresas segundo os seus compromissos com a reversão do quadro de mudanças climáticas.
"O consumidor consciente representa 18%, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em tempos de crescimento econômico esse já é um dado importante. Mas imagine em tempos de crise, quando as fabricantes de automóveis disputam os clientes?", avalia. Considerando um cenário de consumidores cada vez mais conscientes, promover tecnologias mais limpas será uma estratégia-chave para setores como o automobilístico, principalmente diante dos fatos mais recentes, como a emergência da precificação do carbono nos Estados Unidos e a necessidade de mudanças de paradigmas em meio à crise mundial.
Na visão de Bastos, o diferencial sustentável é essencial neste momento de turbulência econômica, correm mais riscos as empresas que não identificarem a tempo as preferências socioambientais dos seus clientes a tempo, buscando implementar ações e mudanças. Nem todas -avalia -- têm trabalhado a questão de uma forma extremamente pró-ativa. Há as que parecem ignorar o assunto. "Em relação a riscos, ser reativo é simplesmente colocar em perigo o próprio negócio", sentencia o diretor da Ernst & Young.
Novos mecanismos
Sistemas de captura e comércio de carbono, pelo qual governos estabelecem uma meta máxima de emissões para as companhias e oferecem alternativas como os mercados de carbono, têm estimulado empresas a adotar padrões socioambientais mais rígidos. Nesse contexto, o papel regulador do governo tem se mostrado necessário.
"O governo tende a adotar medidas de forma macro, a partir de instrumentos tradicionais. Um deles é o tributário para incentivar e desenvolver tecnologias e frear a produção excessiva de CO2. O poder público também deve exercer um papel de estímulo na geração de conhecimento no longo prazo", propõe José Roberto Kassai, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI).
Para Bastos, da Ernst & Young, políticas públicas na linha do que está sendo adotado em muitos países europeus podem ser uma boa estratégia. "Em relação aos governos, um conjunto que parece ser razoável atualmente, inclui políticas públicas, incentivos, comando e controle, assim como leis de restrição. Provavelmente, nenhuma solução isolada seria eficiente ou milagrosa", analisa.
A ascensão de projetos como os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) em países emergentes como Índia e China - aponta o estudo - representam um instrumento regulatório dominante na agenda global de debates da política pública. Para evitar riscos, as empresas devem estar atentas a essas novas medidas e avaliar sistematicamente como podem impactá-las, buscando sempre enxergar novas oportunidades ou caminhos eficientes de manejo de custo.
De acordo com Kassai, é positivo o fato de já existir um esforço para reconhecer, medir e precificar os efeitos dos serviços ambientais e externalidades. "O comércio de carbono e os mecanismos financeiros evoluíram bastante, principalmente no Brasil. Talvez esse movimento contribua com a transição para um pós-capitalismo", avalia.
Baixo carbono
A ascensão de uma economia de baixo carbono envolve diversas questões, entre as quais o aumento nos preços da energia e riscos geopolíticos associados ao acesso a combustíveis fósseis.
Os riscos na implementação de novas tecnologias incluem principalmente desafios financeiros, como no caso das energias eólica e solar, que requerem infraestruturas alternativas. Segundo Bastos, no entanto, esse axioma se revela descabido na maioria das vezes. "A gestão de riscos não demanda necessariamente altos investimentos. Em muitos casos o gerenciamento desses fatores está mais relacionado a uma orientação estratégica e um cuidado diário na gestão", ressalta o diretor.
Os impactos das energias alternativas também representam uma questão à parte. O Relatório de riscos para os negócios 2009 aponta evidências de que alguns biocombustíveis contribuíram com o aumento no preço dos alimentos nos países em desenvolvimento. Além disso, podem ter aumentado a taxa de desmatamento e liderado grandes emissões de carbono. No caso do hidrogênio como fonte de energia - destaca o estudo - o ciclo de vida desse combustível não reduz as emissões de dióxido de carbono e sua matéria-prima, o lixo industrial, é limitada. Na competição por capital, as energias alternativas podem oferecer taxas mais baixas de retorno e performance de risco.
Para Kassai, é possível que as empresas comecem a ampliar as negociações entre setores e aumentar o leque de alternativas, deixando de lado uma atitude individual em busca de objetivos mais altruístas. "Vivemos uma situação de crise financeira na qual a moeda pesa muito. Mas imagino que diante dessas dificuldades, o mundo passe a atribuir menos valor ao dinheiro e mais a outros tipos de moeda como conhecimento, tecnologias e meio ambiente", ressalta.
O estudo da Ernst & Young ressalta ainda que muitas oportunidades de redução de CO2 têm sido perdidas em meio à corrida por energias alternativas. Construções mais eficientes, por exemplo, podem reduzir em cerca de 70% os gastos. Diminuições em viagens e transportes também baixariam consideravelmente as emissões.
Resposta ao risco
Entre os passos que as companhias podem dar em resposta aos riscos do esverdeamento radical está, por exemplo, a adoção de estratégias colaborativas. Qualquer inovação demandada pelos consumidores verdes dificilmente resultará de uma ação isolada de empresa.
Outro aspecto apontado no estudo da Ernst & Young é o exercício do papel de liderança. O manejo da responsabilidade corporativa e uma gestão baseada em medidas de prevenção de perdas, juntamente com o desejo público de ser ambientalmente amigável, representa uma oportunidade para inovar e valorizar a marca e a reputação. "A idade média das empresas no mundo é de treze anos, um período relativamente curto. As companhias sustentáveis tendem a ter uma vida útil maior. É uma lei do equilíbrio natural", destaca Kassai.
Avaliar a exposição na atual agenda verde também é fundamental para as companhias. Uma medida, que tem sido tomada por muitas empresas, é ter uma compreensão detalhada dos atuais impactos ambientais que ocorrem ao longo de suas cadeias de valores, construindo uma visão clara das oportunidades de mitigação e seus custos associados.
Uma segunda medida, adotada por corporações líderes, consiste em compreender as expectativas dos públicos de interesse e avaliar como os concorrentes estão respondendo a essas exigências. "Os aspectos socioambientais são inerentes a cada operação, setor e região específicos. É muito importante que o levantamento deles seja bem feito e se incorpore à cultura de gestão da empresa. Até porque esses riscos são extremamente dinâmicos", conclui Bastos.
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(Envolverde/Revista Idéia Socioambiental)
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