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Os primeiros a pagar pelas mudanças climáticas, e os que pagarão mais

23/04/2009

por Miriam Duailibi, Presidente do Instituto Ecoar, sobre a conferência promovida pela Universidade York (Canada).

"Os primeiros a pagar pelas mudanças climáticas, e os que pagarão mais, serão os pobres, os marginalizados, os desassistidos do Hemisferio Sul e aqueles que são o Sul no Norte.
Todos os esforços para lidar com as mudanças climáticas tem que aceitar este fato e promover medidas de adaptação. Estas medidas somente podem ser bem sucedidas na extensão em que reconheçam a primazia deste contexto e destas circunstâncias especificas e respeitem e incorporem os conhecimentos locais e tradicionais."

Esta declaração do vice reitor de assuntos acadêmicos da "York University" York University de Toronto no Canada, Adrian Schubert, nos revela a espinha dorsal do que foi a Conferencia realizada naquela Universidade em 16 e 17 de abril, com o titulo de "Como irão as populações desassistidas se adaptarem as mudancas climáticas? "

A concepção da Conferência surgiu quando, na ocasião da visita de Adrian Schubert e da vice reitora de assuntos internacionais de York, Sheila Embleton, ao Ecoar em agosto de 2008, Miriam Duailibi, presidente da Instituição, manifestou seu desapontamento com as conferências e seminários sobre clima, que acontecem em todo o mundo, onde somente se discute sobre tecnologias limpas, energias renováveis, mudanças de práticas, mercado de carbono, ou seja, medidas de mitigação, mas praticamente nada se fala sobre como os paises pobres, as comunidades pobres dos paises em desenvolvimento e até mesmo as populações pobres dos países ricos, se protegerão dos fenômenos climáticos extremos que já estão em curso.br>
Clique aqui ou na imagem e conheça a Programção de tudo que aconteceu na Conferência (em inglês).


Na seqüência, Miriam propôs que a Universidade de York, que abriga entre seus 53 000 alunos, uma extraordinária diversidade étnica, religiosa e cultural fosse a proponente de uma ampla discussao sobre adaptação entre o Sul e o Norte.

Meses depois, a Universidade de York conseguiu viabilizar a realização da Conferencia "How will disenfranchized peoples addapt to Climate Change?" com a participação do Brasil, África do Sul, India e dos povos do Ártico Canadense, além de professores e alunos da própria Universidade e convidados especiais.

Convidada para abrir a Conferência, Miriam Duailibi, do Ecoar, falou da procupação da entidade com a vulnerabilidade das populações urbanas marginalizadas e sobre como o Ecoar vem há 12 anos trabalhando no sentido de fomentar a conscientização da população brasileira sobre o aquecimento global e suas perversas consequências.

Mostrou os vários programas realizados ao longo dos anos pela entidade, todos tendo como fio condutor a sensibilização, mobilização e educação de individuos, grupos, comunidades, gestores públicos, lideranças, empresários para que compreendam o que é o fenômeno, suas causas e consequências e a conexão existente entre nosso modo de produzir, consumir, descartar, morar, locomover, viver e o aquecimento global.

Como fazer parte da solução é o que pretende mostrar o ECOARES, um dos programa em andamento do Instituto.

Miriam falou também da realização do primeiro Curso de Especialização em Mudanças Climáticas, Sequestro e Mercado de Carbono de toda a América Latina, que tem o objetivo de formar massa crítica sobre o tema no país, para que se possam construir politicas públicas de mitigação e adaptação justas e adequadas, assim como para fomentar mudanças expressivas de hábitos e práticas da sociedade brasileira e formar profissionais qualificados para lidar com o tema. Mostrou a relação que existe entre a construção de um novo olhar sobre a questão climática e as possibilidades de se fazer pressão sobre governos e empresas por atitudes corretas e justas.

Eduardo Quartim, coordenador de projetos florestais e de seqüestro de carbono do Instituto Ecoar, mostrou os trabalhos da Instituição na área rural, conciliando atividades agrícolas, florestais, de seqüestro de carbono e de manejo de resíduos, ao mesmo tempo em que se incrementa a geração de renda dos pequenos produtores rurais. A excelência do trabalho realizado aqui no Brasil, causou um grande impacto na platéia.

Paulo Cunha, pesquisador sênior na área de Seqüestro de Carbono, fez uma surpreendente e emocionada apresentação onde mostrou como a tecnologia do seqüestro geológico de carbono ( CCS) pode contribuir para mitigar o aquecimento global ao mesmo tempo em que inclui a população do entorno do empreendimento e gera riquezas para as comunidades.

Tendo como fio condutor a questão da justiça social, Paulo ponderou que as novas tecnologias podem não apenas ajudar a combater o aquecimento global, mas podem e devem estar imbuidas da intencionalidade de promover o desenvolvimento sustentável das regiões onde são aplicadas.

A tônica das apresentações de todos os países foi bastante similar. Todas expressaram as preocupações das ONGS e das Universidades com as consequências das mudanças climáticas no modo de vida das comunidades pobres urbanas e rurais, com o agravamento da pobreza e da miséria, com as sempre problemáticas migrações climáticas, com a perda de identidade que elas acarretam. Por outro lado discutiu-se muito o valor do conhecimento destas comunidades, em especial das mais tradicionais, que por séculos conviveram de forma harmoniosa e sustentável com a Natureza.

Como valorizar e aproveitar este conhecimentos para aumentar a resiliência destas comunidades aos efeitos do aquecimento global, foi a pergunta que mais se fez.

Algumas respostas estavam ali, presentes nos projetos desenvolvidos no Brasil, na India, na África do Sul, no Ártico e, certamente outras estão em muitos outras comunidades do Planeta.

Entre as propostas surgidas na Conferencia, está a de promover um "side event" durante a COP em Kopenhagen, em dezembro próximo, como uma maneira de mostrar às comunidades cientificas e políticas ali reunidas, a necessidade de se discutir, com urgência, as medidas que devem ser tomadas globalmente para ajudar os países pobres a se adaptarem às Mudancas Climáticas, evitando assim que se promova um novo appartheid no mundo, o appartheid da adaptação, como bem enfatiza o bispo Desmond Tutu.


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